Um dos movimentos culturais mais importantes do século XX, sem dúvidas foi o do rebuliço provocado pela Geração Beat. Escritores de camadas sociais menos abastadas juntaram-se para mudar as estruturas tanto da prosa, quanto da poesia. No entanto, a literatura beatnik muitas vezes é associada à libertinagem - do corpo e do intelecto. Apesar de provocar desgosto em muitos eruditos ao redor do mundo, esse movimento originário dos EUA pós-2ª Guerra Mundial acarretou em uma verdadeira revolução cultural - que mais tarde passou a ser associada à contracultura.
Evidentemente que as marcas deixadas pelos beatniks na história da cultura popular pós-moderna ao longo os anos não se limitou apenas aos seus escritos. Diversas obras cinematográficas foram feitas para retratar as peculiares figuras que encabeçaram a Geração Beat. Alguns dos mais lembrados são:
Evidentemente que as marcas deixadas pelos beatniks na história da cultura popular pós-moderna ao longo os anos não se limitou apenas aos seus escritos. Diversas obras cinematográficas foram feitas para retratar as peculiares figuras que encabeçaram a Geração Beat. Alguns dos mais lembrados são:
- Versos de um Crime (2014)
Baseado em fatos reais, "Versos de um crime" ("Killing your Darling"), lançado em 2014 e dirigido por John Krokidas, narra parte da juventude do poeta Allen Ginsberg (Daniel Radcliffe). A história, que se passa antes do início da Geração Beat, é centrada nos episódios ocorridos logo após o ingresso de Allen na universidade de Columbia, em Nova Iorque. São colocados em cena os primeiros contatos entre o jovem Allen e os futuros beats Jack Kerouac (Jack Huston) e William Burroughs (Ben Foster). No entanto, é outro rapaz quem recebe grande destaque no filme: Lucien Carr (Dane DeHaan), um dos principais idealizadores do que mais tarde se tornaria o movimento literário protagonizado pelos seus amigos. A trama caminha até um pouco além do ponto em que Carr assassina um homossexual mais velho que nutre uma incansável obsessão por ele.
A falta de talento de Lucien fica evidente durante toda a narrativa. No entanto, o filme demonstra o quão importante ele fora como incentivador dos colegas. Infelizmente Carr acabou por ganhar sua maior fama graças ao violento crime que cometera.
Com direção bastante competente e atuações razoáveis, o filme tem um ritmo que flui bem. Os momentos em que a poesia recebe destaque merecem elogios. Apesar de não ser um grande filme, é interessante acompanhar esse momento da vida dos então desconhecidos e jovens Ginsberg, Burroughs e Kerouac.
- Uivo (2010)
"Howl and Other Poems" é considerado, nos dias de hoje, uma das obras poéticas mais importantes do século XX. No entanto, quando lançado, o livro gerou muita polêmica entre parte dos leitores e da crítica - sendo até mesmo avaliado no tribunal, apontado como "obsceno".
Dirigido por Jeffrey Friedman e Rob Epstein e lançado em 2010, o filme "Uivo" (Howl) se passa justamente no período do julgamento judicial do livro, em meados da década de 1950. O longa, que conta com ótima atuação de James Franco como Allen Ginsberg, coloca o livro em debate e traz diversas possibilidades de interpretação para o poema "Howl" (que é lido na íntegra) ao longo da narrativa. Além disso, permite ao espectador conhecer um pouco mais sobre a história do autor e, consequentemente, da relação dele com os outros escritores beatniks. Vale destacar a interessante estética do filme - que mistura magistralmente filmagem com animação.
- Na Estrada (2012)
Constantemente referenciado como "a bíblia beatnik", o romance "On the road",
lançado em 1957 por Jack Kerouac, é o livro em prosa mais aclamado da
Geração Beat. Semi-autobiográfica, a obra narra um período da juventude
de Kerouac em em que ele fizera diversas viagens ao longo dos EUA -
inclusive indo até o México. As principais figuras do movimento beat
marcam presença na obra, através de alter egos criados pelo autor: Jack
Kerouac é Sal Paradise, Neal Cassady é Dean Moriarty, William S.
Burroughs é Old Bull Lee, Allen Ginsberg é Carlo Marx e Lucien Carr é
Damion.
"On the road" é um livro que tem um estilo de linguagem bastante característico, história longa, com muitos detalhes, muitos cenários e muitos personagens. Apesar dessas características, a a narrativa é poderosa, com um ritmo frenético. Adaptar uma obra como essa para a linguagem cinema é uma tarefa bastante arriscada.
A adaptação homônima, dirigida pelo brasileiro Walter Salles Jr. e lançada em 2012, trata a situação com alguma sensibilidade. Embora a narrativa esteja focada nas viagens dos amigos Sal Paradise e Dean, há cenas sutis que têm como enfoque o desamparo das mulheres de Dean Moriarty - Marilou e Camille -, diante de sua personalidade hedonista.
- Pull My Daisy (1959)
Todas as principais características da Geração Beat estão bem representadas neste curta-metragem, que tem Jack Kerouac recitando texto por ele escrito, especialmente para o filme. O roteiro é extremamente característico ao estilo de escrita frenético de Jack. Aliás, é o próprio Kerouac que dá voz ao personagens, dublando todas os atores em tela. A estética cinematográfica padrão é rompida, com diversos experimentalismos de câmera - mas que não provocam necessariamente desconforto.
Allen Ginsberg é um dos personagens principais da história - interpretando a si mesmo - e uma das melhores partes do roteiro faz referência clara e inteligentíssima à nota de rodapé do mais famoso poema de Allen - Uivo; Gregory Corso, outra figura importante no universo beatnik, também tem destaque na narrativa. Tudo isso é abrilhantado pela maravilhosa trilha sonora jazzística.
- O Natal de um junkie (1993)
O filme intercala animação com filmagens convencionais e conta com atuação e narração do escritor William Burroughs. O Natal de um junkie é, na verdade, um conto que William publicou na coleção Interzone de 1989 - e neste curta, é recitado na íntegra.
A história acompanha as dificuldades enfrentadas Danny, um viciado em heroína que saiu da prisão no Natal. É um conto que revela a alma do personagem, que passa por situações de abstinência, luta contra a tentação em suas diversas formas, reflexões morais e a disposição de prestar atos de bondade.
- Viagem Mágica (2011)
E já que houve menção aos camaradas de Jack, é importante dizer que um dos maiores destaques de Magic Trip é contar com filmagens inéditas do lendário Neal Cassady - o eterno Dean Moriarty. Outros beatniks até aparecem, mas o destaque é todo de Neal, que assume o papel de motorista de ônibus, ostentando as suas habilidades atrás do volante.
Dito isso, é bom salientar que os 107 minutos de duração do documentário, dirigido por Alex Gibney e Alison Ellwood, são um tanto maçante. No entanto, servem como entretenimento e talvez agreguem algum detalhe bacana ao conhecimento de quem assistir.
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Há outros filmes que representam bem a essência dos beatniks. No entanto, a maioria dessas obras é bastante complicada de se encontrar, mesmo nos tempos de internet. Essa postagem não tem caráter meramente informativo, mas também serve como uma forma de trocar materiais e dialogar. Portanto, se você tem alguma outra recomendação ou possui algum arquivo/link de filme que se encaixa nos aqui descritos, pode enviar um e-mail para redacao.willianschutz@gmail.com - ficarei muito agradecido.