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sexta-feira, 12 de julho de 2019

Principais filmes a retratar a Geração Beat

Um dos movimentos culturais mais importantes do século XX, sem dúvidas foi o do rebuliço provocado pela Geração Beat. Escritores de camadas sociais menos abastadas juntaram-se para mudar as estruturas tanto da prosa, quanto da poesia. No entanto, a literatura beatnik muitas vezes é associada à libertinagem - do corpo e do intelecto. Apesar de provocar desgosto em muitos eruditos ao redor do mundo, esse movimento originário dos EUA pós-2ª Guerra Mundial acarretou em uma verdadeira revolução cultural - que mais tarde passou a ser associada à contracultura.

Evidentemente que as marcas deixadas pelos beatniks na história da cultura popular pós-moderna ao longo os anos não se limitou apenas aos seus escritos. Diversas obras cinematográficas foram feitas para retratar as peculiares figuras que encabeçaram a Geração Beat. Alguns dos mais lembrados são:
  • Versos de um Crime (2014)
         Baseado em fatos reais, "Versos de um crime" ("Killing your Darling"), lançado em 2014 e dirigido por John Krokidas, narra parte da juventude do poeta Allen Ginsberg (Daniel Radcliffe). A história, que se passa antes do início da Geração Beat, é centrada nos episódios ocorridos logo após o ingresso de Allen na universidade de Columbia, em Nova Iorque. São colocados em cena os primeiros contatos entre o jovem Allen e os futuros beats Jack Kerouac (Jack Huston) e William Burroughs (Ben Foster). No entanto, é outro rapaz quem recebe grande destaque no filme: Lucien Carr (Dane DeHaan), um dos principais idealizadores do que mais tarde se tornaria o movimento literário protagonizado pelos seus amigos. A trama caminha até um pouco além do ponto em que Carr assassina um homossexual mais velho que nutre uma incansável obsessão por ele.
        A falta de talento de Lucien fica evidente durante toda a narrativa. No entanto, o filme demonstra o quão importante ele fora como incentivador dos colegas. Infelizmente Carr acabou por ganhar sua maior fama graças ao violento crime que cometera. 

          Com direção bastante competente e atuações razoáveis, o filme tem um ritmo que flui bem. Os momentos em que a poesia recebe destaque merecem elogios. Apesar de não ser um grande filme, é interessante acompanhar esse momento da vida dos então desconhecidos e jovens Ginsberg, Burroughs e Kerouac.
  • Uivo (2010) 
          Publicado em 1956, o livro “Howl and Other Poems” (literalmente traduzível como “O Uivo e Outros Poemas”), do poeta Allen Ginsberg, é uma das obras mais importantes da literatura beat. O poema mencionado no título ao livro trata-se de uma longa celebração da vida dos menos afortunados, através de um retrato metafórico da juventude da época. Além disso, "Uivo" conta com uma "nota de rodapé" belíssima - que contrasta com a agressividade na linguagem utilizada no poema. 
       "Howl and Other Poems" é considerado, nos dias de hoje, uma das obras poéticas mais importantes do século XX. No entanto, quando lançado, o livro gerou muita polêmica entre parte dos leitores e da crítica - sendo até mesmo avaliado no tribunal, apontado como "obsceno". 

      Dirigido por  Jeffrey Friedman e Rob Epstein e lançado em 2010, o filme "Uivo" (Howl) se passa justamente no período do julgamento judicial do livro, em meados da década de 1950. O longa, que conta com ótima atuação de James Franco como Allen Ginsberg, coloca o livro em debate e traz diversas possibilidades de interpretação para o poema "Howl" (que é lido na íntegra) ao longo da narrativa. Além disso, permite ao espectador conhecer um pouco mais sobre a história do autor e, consequentemente, da relação dele com os outros escritores beatniks. Vale destacar a interessante estética do filme - que mistura magistralmente filmagem com animação.
  • Na Estrada (2012)
          Constantemente referenciado como "a bíblia beatnik", o romance "On the road", lançado em 1957 por Jack Kerouac, é o livro em prosa mais aclamado da Geração Beat. Semi-autobiográfica, a obra narra um período da juventude de Kerouac em em que ele fizera diversas viagens ao longo dos EUA - inclusive indo até o México. As principais figuras do movimento beat marcam presença na obra, através de alter egos criados pelo autor: Jack Kerouac é Sal Paradise, Neal Cassady é Dean Moriarty, William S. Burroughs é Old Bull Lee, Allen Ginsberg é Carlo Marx e Lucien Carr é Damion.    

          "On the road" é um livro que tem um estilo de linguagem bastante característico, história longa, com muitos detalhes, muitos cenários e muitos personagens. Apesar dessas características, a a narrativa é poderosa, com um ritmo frenético. Adaptar uma obra como essa para a linguagem cinema é uma tarefa bastante arriscada.

           A adaptação homônima, dirigida pelo brasileiro Walter Salles Jr. e lançada em 2012, trata a situação com alguma sensibilidade. Embora a narrativa esteja focada nas viagens dos amigos Sal Paradise e Dean, há cenas sutis que têm como enfoque o desamparo das mulheres de Dean Moriarty - Marilou e Camille -, diante de sua personalidade hedonista.
  • Pull My Daisy (1959) 
            Pull My Daisy, lançado em 1959, tem direção de Alfred Leslie e Robert Frank, além de atuações dos mais escritores mais famosos do movimento beat.

      Todas as principais características da Geração Beat estão bem representadas neste curta-metragem, que tem Jack Kerouac recitando texto por ele escrito, especialmente para o filme. O roteiro é extremamente característico ao estilo de escrita frenético de Jack. Aliás, é o próprio Kerouac que dá voz ao personagens, dublando todas os atores em tela. A estética cinematográfica padrão é rompida, com diversos experimentalismos de câmera - mas que não provocam necessariamente desconforto.

           Allen Ginsberg é um dos personagens principais da história - interpretando a si mesmo - e uma das melhores partes do roteiro faz referência clara e inteligentíssima à nota de rodapé do mais famoso poema de Allen - Uivo; Gregory Corso, outra figura importante no universo beatnik, também tem destaque na narrativa. Tudo isso é abrilhantado pela maravilhosa trilha sonora jazzística. 
  • O Natal de um junkie (1993)
          Lançado em 1993, "O Natal de um junkie" ("The Junky's Christmas") é um curta-metragem de animação em stop motion produzido pelo famosíssimo cineasta Francis Ford Coppola, juntamente de Francine McDougall. A direção é de Nick Donkin e Melodie McDaniel.
              O filme intercala animação com filmagens convencionais e conta com atuação e narração do  escritor William Burroughs. O Natal de um junkie é, na verdade, um conto que William publicou na coleção Interzone de 1989 - e neste curta, é recitado na íntegra. 

             A  história acompanha as dificuldades enfrentadas Danny, um viciado em heroína que saiu da prisão no Natal. É um conto que revela a alma do personagem, que passa por situações de abstinência, luta contra a tentação em suas diversas formas, reflexões morais e a disposição de prestar atos de bondade.



  • Viagem Mágica (2011)
          O documentário retrata uma lendária viagem até a Feira Mundial de Nova York onde embarcaram o famoso autor Ken Kesey e os “Merry Pranksters” - ou “Alegres Brincalhões”. Além disso, é feita uma recapitulação muito interessante da história do movimento protagonizado por Kerouac e companhia.

            E já que houve menção aos camaradas de Jack, é importante dizer que um dos maiores destaques de Magic Trip é contar com filmagens inéditas do lendário Neal Cassady - o eterno Dean Moriarty. Outros beatniks até aparecem, mas o destaque é todo de Neal, que assume o papel de motorista de ônibus, ostentando as suas habilidades atrás do volante.
               
              Dito isso, é bom salientar que os 107 minutos de duração do documentário, dirigido por Alex Gibney e Alison Ellwood, são um tanto maçante. No entanto, servem como entretenimento e talvez agreguem algum detalhe bacana ao conhecimento de quem assistir.

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Há outros filmes que representam bem a essência dos beatniks. No entanto, a maioria dessas obras é bastante complicada de se encontrar, mesmo nos tempos de internet. Essa postagem não tem caráter meramente informativo, mas também serve como uma forma de trocar materiais e dialogar. Portanto, se você tem alguma outra recomendação ou possui algum arquivo/link de filme que se encaixa nos aqui descritos, pode enviar um e-mail para redacao.willianschutz@gmail.com - ficarei muito agradecido.  

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Resenha crítica do filme Quase Famosos (2000)




          O cenário musical da década de 1970 tinha os grandes nomes da indústria do rock n' roll como pilares para a formação sociocultural de boa parte da juventude da época. Bandas como Black Sabbath, Led Zeppelin, Ziggy Stardust and The Spiders From Mars (de David Bowie), Lynyrd Skynyrd e músicos como Bob Dylan e Elton John eram os principais expoentes de um movimento que dava continuidade ao movimento hippie dos anos 1960 (que surgira como consequência da ideologia da famosa Geração Beat do Estados Unidos) - que arrastava multidões por onde passava. Com isso, as pessoas envolvidas nesse cenário, com extravagâncias e veia artística, pareciam mais como grandes personagens fictícios. Quase Famosos (Almost Famous), filme semi-autobiográfico dirigido por Cameron Crowe, lançado no ano 2000, emula bem a essência de uma época bastante representativa da história.
          Com o crescente sucesso do rock, as revistas de jornalismo especializado gradativamente ganharam mais notoriedade. A maior delas é, desde a década representada no longa de Crowe, é a Rolling Stone - que tem grande importância no enredo.

Cartaz oficial do filme. Todos os direitos reservados à Universal Pictures.

           Inspirado em uma história da adolescência do próprio Cameron Crowe, Quase Famosos acompanha o período da vida de William Miller, um menino que, ao ganhar a coleção de discos da irmã, torna-se um grande fã de música - mais especificamente dos gêneros folk e rock. Depois de quatro anos escutando muito material, estudando e escrevendo resenhas por prazer, William, com apenas 15 anos de idade, agarra a oportunidade de trabalhar para a revista Rolling Stone. Seu primeiro trabalho: acompanhar a turnê Almost Famous '73 da banda Stillwater. Situações absurdas acontecem ao longo da viagem, que passa por diversas cidades.
            Um dos maiores acertos em Quase Famosos é, sem dúvidas, na questão estética: os designers de arte e produção caracterizaram fielmente todos os aspectos o cenário da década de 1970. As roupas, os penteados, os objetos, as fotos, os cenários... tudo é fielmente reproduzido.
             O elemento que também ajuda bastante na ambientação da película é a trilha sonora. Uma seleção de grandes sucessos da década retratada, cuidadosamente escolhida, faz com que a experiência cinematográfica seja ainda mais imersiva.
             A direção de fotografia, no entanto, não é muito inventiva. De modo geral, é uma direção "quadrada" - o que significa que não há significativos experimentalismos de linguagem. Isso não chega a ser um defeito, apesar de tudo.
             A trama é muito bem construída: todos os arcos que envolvem os personagens principais e secundários se fecham adequadamente, do início ao fim.
             O ponto alto do filme são os personagens. A banda fictícia Stillwater funciona como uma espécie de alegoria alusiva aos músicos de rock dos anos 1970 - brincando com mitos que cerca os grandes astros da época. Todos os personagens têm uma clara evolução ao longo da trama. Destaque para a complexa Penny Lane (muito bem interpretada por Kate Hudson, indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante e vencedora do Globo de Ouro desta categoria); o protagonista William também é muito bem trabalhado, com sentimentos e motivações bem definidas. Os participantes da história são acompanhados tão de perto que, mesmo com os diversos artifícios narrativos utilizados, criam uma espécie de vínculo com o espectador.
            Quase Famosos merecidamente tornou-se um cult entre os apreciadores da música setentista e os estudantes de jornalismo. É um longa-metragem que marca o espectador por seu clima envolvente. O clima de mistura entre realidade e ficção faz com que se tenha vontade de ouvir as canções da Stillwater e compartilhar um pouquinho desse universo tão bem caracterizado.