Mostrando postagens com marcador texto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador texto. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Matéria: Mais rápido do que a própria idade: a curta e intensa trajetória de James Dean, um eterno rebelde sem causa


          Na década de 1950, em pleno pós-guerra, não somente o mundo, mas as artes passavam por diversas transições. O surgimento da cultura popular ganhava mais evidência às massas e os públicos-alvo de obras cinematográficas mudavam gradualmente. Revelaram-se ao longo desses 10 anos na história mundial diversos novos movimentos e ícones populares e artísticos.
          Nas telas do cinema novas preocupações surgiam nos tempos em que a humanidade passava a encarar questões interpessoais e com maior profundidade. A juventude passou a ganhar espaço no protagonismo de filmes que marcariam célebres carreiras e que ainda persistem como intocáveis referências.
          Diretores como Ingmar Bergman, László Benedek, Elia Kazan e Nicholas Ray revelavam em suas obras, através das atemporais problemáticas juvenis, profundas reflexões que ilustravam as realidades sociais da época e que atualmente persistem na realidade de muitos jovens.
          Em 1954 Marlon Brando era considerado o maior ícone da juventude nas telonas. No entanto, ele já era considerado velho demais pelo famoso e polêmico cineasta Nicholas Ray. Portanto, a escolha para estrelar longa Juventude Transviada foi outra: James Bryon Dean, que estava cada vez chamando mais atenção e havia surpreendido estrelando Vidas Amargas (East of Eden), do aclamado e incontestável Elia Kazan.
          O jovem escolhido estava rapidamente despontando rumo a se tornar um ícone cultural da desilusão adolescente e do distanciamento social. Já havia provocado ótimas impressões no teatro e em performances diante das câmeras.
          Com estilo único e que priorizava a liberdade criativa do improviso para incorporar a atuar, Dean fora revelado ao cinema por Elia Kazan, que também revelara Marlon Brando e que era reconhecido como um dos fundadores do lendário Actors Studio.
Quando Vidas Amargas foi lançado em 16 de maio de 1955, Juventude Transviada ainda estava em fase de produção. James Dean realmente foi destaque e fez com que a juventude da época se identificasse com as questões do protagonista Cal Trask.
          As filmagens do segundo filme protagonizado pelo jovem foram um sucesso. Nicholas Ray decidiu então escolher Dean para atuar em um longa de mais de 3 horas de duração: Assim Caminha a Humanidade, que foi lançado em 10 de outubro de 1955.
          Originalmente chamado de Giant, Assim Caminha a Humanidade acompanha um rancheiro milionário do Texas e a refinada Bick Benedict. Eles se casam, mas ela não se entende muito bem com a irmã de seu novo marido e, ao mesmo tempo, ganha a admiração do jovem ambicioso Jett Rink (James Dean), que passa por uma grande reviravolta. Ao longo dos anos, cresce a rivalidade entre Bick e Jett e a sorte de todos está prestes a mudar.
          Dean também teve ótimo desempenho no terceiro filme. Em vários momentos da longa projeção ele simplesmente rouba a cena com o carisma transpassado no seu jeito de interpretar.
Assim que as gravações de Assim Caminha a Humanidade tinham terminado, James imediatamente retornou à sua rotina, que curiosamente era refletida em seus principais papéis: galanteador, de personalidade forte e com grande ligação com a velocidade.
          James era famoso por ser um rapaz simples, que, apesar de muito apresso aos hábitos de leitura e amor incondicional pela sétima arte, não negava participar de boas festas.
          Uma das cenas mais lembradas de Juventude Transviada mostra um insana disputa de carros em direção à queda de um penhasco. O desafio colocado entre os dois jovens que disputavam entre si: "o primeiro a saltar do carro, é um 'frangote'". Então, passa-se em tela uma brilhante sequência que exalta a velocidade e a alta tensão.
          Não é acaso que essa seja uma das cenas mais lembradas do filme, que teve a criação do roteiro se baseando em uma pequena história sobre disputa de gangues de jovens, tendo apenas a sequência do duelo de carros. A Warner comprou esta idéia e, apenas depois, se desenvolveu a trama.
Seus dois últimos filmes ainda estavam na fase de pós-produção quando James Dean morreu em um acidente de carro, às 17h45 do dia de 30 de setembro de 1955.  A colisão frontal aconteceu na interseção de duas estradas estaduais, a 46 e a 41, perto da cidade de Cholame, na Califórnia, a aproximadamente 300 km de Los Angeles.
          Duas horas depois de ter recebido uma multa por alta velocidade, James pilotava Porsche 550 Spyder prateado, que tinha o apelido de "Little Bastard" (literalmente traduzível como "Pequeno Bastardo").
          Quando Assim Caminha a Humanidade estrou, a juventude norte-americana ainda estava profundamente abalada com a inesperada morte do ator. O lançamento foi em 10 de outubro de 1955.
          Mas o maior sucesso da carreira de Dean foi mesmo Juventude Transviada. Originalmente titulado como Rebel Without a Cause, o longa metragem de drama lançado em 26 de outubro de 1955 é o último filme estrado pelo então ícone em explosiva ascensão James Dean e é considerado o seu maior sucesso cinematográfico. Sinopse do filme: Jim Stark é um jovem problemático e, por sua causa, os pais se mudam de uma cidade para outra, até se fixarem em Los Angeles. Certo dia, ele é preso por embriaguez e desordem, e conhece outros dois jovens com pequenos delitos. Após ser libertado, tenta se aproximar de Judy, mas cria rivalidade com o namorado da moça, com trágicas consequências.
          James Dean foi batizado de "o rebelde da América" por Ronald Reagan também ator e mais tarde presidente dos Estados Unidos. Além disso, na cerimônia de celebração do Oscar de 1956 James Dean foi o primeiro ator a receber uma indicação póstuma como "Melhor Ator". Em 1999, o American Film Institute classificou-o como o 18º maior astro masculino do cinema da Era de Ouro de Hollywood em sua lista 100 Anos... 100 Estrelas.

Cartaz oficial de Juventude Transviada. Direitos reservados à Warner Bros. 

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Resenha crítica: Hollywood, de Charles Bukowski


          Charles Bukowski foi um escritor que realmente sabia como ser direto. O velho safado não escondia em seus livros o fato de ser um velho bêbado safado que tinha grande senso de humor e apreço pelos fracassados e esquecidos, além de que sua obra é de teor bastante auto-biográfico. Em Hollywood, o bêbado alemão mais americano da história da literatura nos trás relatos hilários da sua experiência ao escrever pela primeira e única vez um argumento para um filme de cinema. E que história regada de fatos absurdos - e engraçados... Neste romance, temos essencialmente Bukowski escrevendo sobre Bukowski (devidamente personificado no alter ego, Hank Chinaski) escrever um filme sobre Bukowski.


          Com algumas referências sobre cinema e literatura quase que escondidas no decorrer do livro, Hollywood é repleto de situações hilárias - leiam para sabem... mas algumas envolvem velhas russas com fetiche, bairros negros absurdos, galinhas, e porres -, mas também tem fortes passagens que geram reflexões - além de alfinetadas afiadas no nicho artístico.

          Charles Bukowski investe muito em caracterizar seus personagens em mínimos detalhes. O protagonista que vive dando choques de realidade impiedosos em todos ao seu redor - inclusive no leitor; a esposa companheira que provavelmente salvou o marido inconsequente da auto-destruição; o amigo de longa data que marca presença somente em momentos decisivos; os artistas excêntricos.

          A cidade de Hollywood é caracterizada brilhantemente nas entrelinhas do livro, tendo seus lados mais obscuros e esquecidos mostrados com clareza e naturalidade despreocupada. O autor demonstra discretamente a sua sensibilidade ao olhar para todos os talentos perdidos e para todas as pessoas que vivem em crescente decadências, esquecidas por todos.

         Com linguagem simples - sem rebuscamento, tudo muito coloquial - e diálogos brilhantemente construídos - e definitivamente marcantes -, o romance de Bukowski prova que ele não vendeu-se (apesar dele mesmo ter medo disso, e o livro parecer um reflexão sobre) para o estrelato de Hollywood, e que sua obra sempre será o retrato genuíno do seu pensamento reflexivo. É uma leitura prazerosa e que flui rapidamente, fazendo desde os leitores mais exigentes, até os bêbados mais fiéis do bom e velho tio Bukowski se divertirem.

 Aqui vão algumas passagens que eu destaquei no livro: 
   
"[...] não se pode viver sempre escrevendo, e havia muito espaço a preencher. Eu o preenchia com uísque, cerveja e mulheres. Eu acabei me enchendo das mulheres e me concentrei no uísque e na cerveja." - Sobre o alcoolismo de Chinaski, e sua facilidade de se sentir repulsivo.  

"Eu geralmente passava às damas o dinheiro do táxi, mandava-as dar o fora e continuava bebendo sozinho. Duvido que usassem o dinheiro do táxi em táxis." - Sobre as putas da Califórnia. 

Todo o discurso de Jean-Paul sobre todos serem imundos... "TODOS NÓS TEMOS CU, CERTO?"... Página 30.

"Faltava totalmente alguma coisa nos pobres sujeitos, e alguma coisa em mim doeu, apenas por um instante, e senti vontade de abraçá-los, consolá-los e beijá-los com um Dostoiévski, mas sabia que isso no fim não levaria a nada, a não ser ao ridículo e à humilhação, para mim mesmo e para eles." - Sobre seus leitores pobres, bêbados e fracassados. 

Páginas 54 e 55 fazem a junção da poesia com a prosa.

"Uma de minhas mulheres passadas berrara para mim:
- Você bebe para sair da realidade!
- É claro, minha cara - lhe respondera.
Usava a garrafa e a máquina. Gostava de ter um pássaro em cada mão, ao diabo com o mato."

"Talvez tivesse conhecido escritores demais. Eles levavam mais tempo falando mal uns dos outros do que fazendo seu trabalho. Eram nervosos, fofoqueiros, velhas solteironas; viviam se lamentando, dando facadas, inchados de vaidade. Eram esses os nossos criadores? Sempre fora assim? Provavelmente sim. Talvez escrever fosse uma forma de lamento. Alguns simplesmente se lamentavam melhor do que os outros." - Sobre escritores e a arte de escrever.
"[...] não tinha medo das feministas. Era um dos últimos defensores da masculinidade e dos colhões no país. Para isso era preciso ter raça" - Sobre atitudes e liberdade de expressão.

           "[...] mas, como a maioria das almas grandes, gostava de um traguinho de vez em quando." - Sobre o alcoolismo em relação aos artistas e intelectuais.

Brilhante diálogo da página 170 - uma entrevista de Chinaski, onde este é impagável.

"A melhor parte de um escritor está no papel. A outra é geralmente bobagem."

"O pai do dono da casa era hippie. Os dois liam o L.A Free Press. Eu escrevia uma coluna, 'Notas de um Homem de Neanderthal'."  - Referência ao livro do Bukowski e coluna que deu origem ao mesmo, "Notas de um velho safado".

 Paro por aqui, pelo fato das minha próximas marcações entregarem muitos detalhes do desenvolvimento. Mas acho que já é suficiente para teres vontade de ler e grifar todo o livro, não é?  ;) 
  

  A edição brasileira foi feita pela editora LPM (que ficou responsável por quase todos os trabalhos do Velho Safado por aqui). A tradução é razoavelmente boa (aceitável). O livro foi publicado em formato de bolso, tem capa fosca e papel off set branco.   

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Resenha crítica do livro: Bowie - A Biografia, escrito por Wendy Leigh



  • O livro que deveria apresentar a biografia mais atualizada do lendário músico britânico David Bowie - conhecido como "O Camaleão do Rock" - talvez devesse se chamar "Aventuras sexuais de David Bowie". Isso se deve ao fato de Wendy Leigh ter escrito um livro que aprofunda-se forçadamente em relação ao casos de David Bowie, preenchendo boa parte do livro reafirmando questões sexuais - apesar de Bowie ter quebrado barreiras sexuais na cultura pop, esse detalhe não é apenas um detalhes no livro -, assim tristemente apresentando de maneira muito superficial a musicalidade do cantor. 



 David Bowie  (nome artístico de David Jones) nasceu na Inglaterra, em 1947. Uma criança de classe média que nascera num pós-guerra onde a marginalidade era comum nos bairros britânicos, David sempre sonhou em ser artista. Um erudito que gostava de cantar, tocar instrumentos, compor, esculpir, pintar, escrever e atuar, ainda rapaz ele começou a tocar saxofone em pubs londrinos, e a compor canções inspiradas em artistas e obras que se fixavam em sua mente. Ao perceber que saxofone não seria seu futuro, o jovem David investe em carreira solo, tocando violão e cantando, acompanhado de uma banda.  Em 1969, Bowie lançou a música Space Oddity, do álbum homônimo, inspirada em 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick. Essa foi a música que deu início ao sucesso do artista, que dentro de alguns anos seria considerado uma lenda viva do rock. David Bowie colecionou sucessos atrás de sucessos, prêmios atrás de prêmios, e se tornou o queridinho dos críticos até sua morte. David também atuou em diversos filmes famosos - que ficam então, ao critério do leitor procurar. O homem de incontáveis facetas faleceu em janeiro de 2016, e deixou um legado imenso de obras. David Bowie é essencial e imortal.
 
Há de se reclamar do fato de da jornalista e escritora Wendy Leigh ter apresentado a discografia do cantor de maneira muito corrida, fazendo provavelmente com que o leitor que não tenha muito conhecimento externo sobre a carreira fique sentindo-se perdido. Os álbuns não são devidamente explorados: erro fatal ao se escrever a biografia de qualquer músico de sucesso.

Os períodos são bastante irregulares e confusos: Wendy faz saltos temporais e mistura durante todo o
escrito, informações sobre a vida do biografado. Não tendo-se assim, uma cronologia dentro do próprio livro.

Nem tudo é um desastre completo nesta biografia. A personalidade misteriosa, intrigante e polêmica de David Bowie é traçada de maneira quase que envolvente. Desse modo, as passagens sobre a persona do artista prendem o leitor até a próxima descrição sexual exagerada e cansativa. Também é notável que o trabalho de pesquisa foi bastante amplo - o que era de se esperar de uma autora de diversas biografias "bem-sucedidas"-, frio e bem embasado.

Uma biografia lançada surpreendentemente após apenas menos de três meses passados a morte do biografado David Jones,  serve como questionamento em relação ao sensacionalismo por detrás desta e seu repentino lançamento, e também serve como um passa-tempo despretensioso apesar de estar muito longe de ser um grande livro do gênero.




  • A edição brasileira, da editora BestSeller também merece destaque:O traducional encadernamento em brochura tem uma capa bonita, com reflexo de luz e faz alusão às capas de Aladdin Sane (1973) e Pin Ups (1973). Quem compra livros pela capa, de certeza compraria esta edição de tradução regular - quem não lê Inglês vai perder algumas referências de músicas que aqui foram mal traduzidas, sendo que alguns trechos nem ao menos são. Quem quiser ler uma boa biografia de David Bowie deverá importar algum dos muitos livros lá fora lançados, ou comprar a edição de Marc Spitz da história, publicado no Brasil pela Benvira.